quinta-feira, 24 de julho de 2014

Conceito de Adolescencia

O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas considera a adolescência inicial (entre 10 e 15 anos) e a adolescência tardia (entre 16 e 19 anos). As mudanças que ocorrem nessa fase se centram, sobretudo, na conscientização e expressão da sexualidade e da individualidade.
Apesar dos alegados e elevados riscos de saúde, as adolescentes consultam menos os médicos do que qualquer outro grupo etário . 

Os adolescentes que procuram o serviço de saúde freqüentemente se deparam com obstáculos de exigências legais de consentimento parental, falta de confidencialidade, incapacidade de pagar, horários e locais inconvenientes, e incapacidade de cumprir a prescrição ou o seguimento, questões que devem ser resolvidas para otimizar o atendimento dos adolescentes.

A Organização Mundial da Saúde considera:

1. adolescentes os indivíduos entre 10 e 19 anos de idade;
2. jovens aqueles entre 15 e 24 anos;
3. povo jovem aqueles entre 10 e 24 anos. 

Durante a adolescência as seguintes mudanças têm lugar: 

1. desenvolvimento da maturidade sexual e reprodutiva;
2. desenvolvimento psicológico dos padrões cognitivo e emocional do adulto;
3. emergência do estado infantil de total dependência sócioeconômica para um estado de relativa independência.

DESENVOLVIMENTO

Mudanças fisiológicas 

Anomalias de desenvolvimento ocorrem durante um período crítico de crescimento físico, emocional e social da adolescente. O médico deve resolver as suas dúvidas no que se refere ao desenvolvimento puberal e seus desvios para responder com segurança às perguntas da adolescente sobre a sua normalidade.
Desenvolvimento psicossocial

Todos os adolescentes são confrontados com três tarefas: 
1. desenvolver uma identidade independente da família; 
2. desenvolver intimidade nas suas relações com outros (física e social);
3. definir uma atividade na qual vai trabalhar durante a sua vida útil.

O comportamento de assumir riscos começa em média no meio da adolescência à medida que o grupo se torna a influência social primária. O desenvolvimento cognitivo que inclui o raciocínio abstrato somente amadurece na adolescência tardia. A atitude imediatista da criança e o comportamento de assumir riscos podem expor a adolescente à gravidez e às doenças sexualmente transmissíveis como resultado da atividade coital não planejada.

As escolhas dos adolescentes sofrem influência considerável da pressão grupal e do comportamento experimental, inclusive de testar os limites, sobretudo em relação ao uso de drogas e de álcool. A orientação sexual e o envolvimento com vários parceiros sexuais podem tornar-se assuntos prioritários para o adolescente. O suicídio do adolescente pode resultar de pressões excessivas do grupo, de depressão, de medos relacionados à normalidade e do abuso de drogas. O suicídio é um grande problema em jovens, sendo a segunda causa de morte em adolescentes .

RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

A falta de confidencialidade é a principal barreira entre a adolescente e o médico. A redução dessa barreira é essencial para abrir caminho para a educação e o aconselhamento da adolescente. O médico deve ser acessível e não julgar explicitamente a adolescente. Ela tem necessidade de privacidade, confidencialidade e participar ativamente na tomada de decisões relativas à sua saúde. Essa necessidade faz parte do seu desenvolvimento. Mesmo que o médico também seja o mesmo que atende a mãe da adolescente, deve ser explícita a garantia relativa à confidencialidade. O relacionamento deve ser independente. Esse fato deve ficar claro para o médico, a adolescente e a mãe. Exceção é a situação de risco de vida: também isso deve ficar claro.

Alguns médicos podem nunca relacionar-se adequadamente com adolescentes, embora o façam muito bem com as mães. Nesse caso, o ideal será encaminhar a adolescente para um colega. Enquanto isso, podem ajudar instruindo as mães sobre as atitudes a serem tomadas nas eventualidades que forem surgindo.

O EXAME GINECOLÓGICO

Freqüentemente a mãe da adolescente pergunta: ..."Vou trazer minha filha para fazer um exame!" ou... "Quando você acha que devo trazer a minha filha para fazer um exame ginecológico?" É preciso que fique bem claro que um exame somente tem sentido nessa idade quando houver as condições especificadas na Tabela 2.

É impressionante o número de crianças levadas ao médico antes do início da puberdade . Essa afirmação é válida para a adolescente, muitas vezes levada ao ginecologista à força por uma mãe ansiosa e controladora. Evidentemente todas as mulheres que praticam o coito e as adolescentes com 18 anos de idade ou mais devem ser encorajadas a fazer exame ginecológico anual, inclusive o teste de Papanicolaou. Dada a prevalência da neoplasia cervical intra-epitelial (NIC) e do HPV nas adolescentes é necessário o quanto antes, apesar do período de latência entre a NIC e o câncer invasor ser de 10 a 15 anos.

De modo geral, deve haver uma queixa ou uma suspeita de que algo está anormal. Suspeita de doença sexualmente transmissível ou de gravidez, abuso sexual suspeito ou existente de fato, e queixa genital ou mamária, por exemplo, presença de sangramento anormal ou de anormalidades no desenvolvimento puberal (Tabela 2).

TABELA 2
Principais indicações do exame ginecológico em adolescentes 

Atividade coital
Exames preventivos a partir da idade de 18 anos 
Suspeita de doença sexualmente transmissível
Suspeita de gravidez
Abuso sexual
Queixa genital ou mamária

Não se deve deixar de receitar contraceptivos ou de fazer o teste de gravidez quando a adolescente se recusa a submeter-se ao exame físico completo. 

Quando não há cooperação da paciente, sobretudo adolescentes virgens ou que têm história de abuso sexual, a ultra-sonografia é útil para avaliar o estado dos órgãos genitais internos. 

A adolescente é um excelente alvo da imunização para o vírus da rubéola e, se coitalmente ativa, deve ser rastreada para doenças sexualmente transmissíveis, particularmente clamídia e gonococo.

PROBLEMAS COMUNS

Na primeira visita ao ginecologista, aparecem perguntas biológicas com maior freqüência entre as meninas mais jovens, de 11 a 14 anos de idade. É muito freqüente que as jovens abaixem a intensidade da voz, quando explicam o aparecimento do corrimento branco. No grupo entre 15 e 20 anos, 60% das consultas giram ao redor da contracepção e a visita ameaçadora ao ginecólogo. O aspecto biológico continua predominando, mas pontua o hirsutismo. 

Essas e outras queixas mais comuns estão expostas na Tabela 3.

TABELA 3
Queixas genitais e mamárias mais comuns em adolescentes:

Perturbações
menstruais
Corrimento vaginal
Dismenorréia
Dor pélvica
Desenvolvimento mamário anormal 
Hirsutismo 

 A prevalência de perturbações menstruais é de aproximadamente 50%. É importante salientar que a amenorréia é considerada um marcador biológico de riscos potenciais para a saúde. No caso da amenorréia da adolescência, sabe-se que pode favorecer a osteoporose em virtude do hipoestrogenismo e, consequentemente, aumenta o risco de fraturas ósseas cuja freqüência é proporcional ao tempo de amenorréia.

Por isso, a disfunção hormonal deve ser tratada precocemente e não apenas observada, como era de praxe no passado. 

Uma boa parte dos corrimentos se deve à ectopia congênita .

É importante aproveitar a oportunidade para discutir problemas relacionados à gravidez e contracepção, ao abuso sexual ou às doenças sexualmente transmissíveis.

Práticas prejudiciais à saúde, por exemplo, anorexia, bulimia, falta de exercício, higiene precária, abuso de drogas, atividade coital desprotegida e alienação da escola e da família podem resultar em depressão, gravidez indesejada, doença ou morte.

CONTRACEPÇÃO

Aos 19 anos de idade, mais de 70% das adolescentes já tiveram pelo menos um coito. A atividade coital inicia-se em média aos 16 anos de idade; cerca de um quinto das meninas e um terço dos meninos de 15 anos já tiveram o primeiro coito .
 Aproximadamente 5% a 10% das adolescentes ficam grávidas.

1- para evitar gravidez, não ter relações ou usar contraceptivos;
2- é preciso que a adolescente tenha uma boa razão para não ficar grávida e deve ser muito bem esclarecida de como e porque evitar uma gravidez.

A escolha do método deve provir da adolescente. Se necessário, o médico deve expor os métodos existentes e quando solicitado procurar adequar o método àquela adolescente em particular.

A pílula oferece o maior grau de proteção contra uma gravidez indesejada, mas não contra Aids ou contra doença sexualmente transmissível.

O condom oferece proteção parcial contra Aids e quase total contra outras doenças sexualmente transmissíveis. Os adolescentes devem ser estimulados a utilizar o condom e a pílula, associados, sobretudo se o relacionamento não é estável. Poucos adolescentes usam condoms de modo persistente no coito vaginal e menos ainda no coito anal, diminuindo a proteção contra Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis.

O medo de efeitos colaterais, por exemplo, aumento das mamas e do peso, hemorragia intermédia e náuseas faz a adolescente evitar a utilização da pílula. Esses problemas devem ser conversados com a adolescente.

DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS

A maioria das adolescentes NÃO está consciente do risco de adquirir doenças sexualmente transmissíveis.

HIV, Clamídia, gonococcia e HPV  freqüentes.
A doença inflamatória pélvica é cem vezes mais freqüente em adolescentes do que na mulher adulta e cerca de 20% dos casos desenvolvem abscessos tubo-ovarianos. É necessário alertar a adolescente sobre a necessidade de utilizar o condom e também dos riscos que uma infecção pélvica acarreta para a futura fertilidade.

ABORTO

Adolescentes tendem a demorar para confirmar a gravidez, negando, ou não sabendo distinguir a gravidez de suas perturbações menstruais. Consequentemente, os abortos do segundo trimestre são mais freqüentes.

No Brasil, meninas entre 10 e 19 anos de idade respondem por 48% dos chamados abortos legais. Toda relação completa com adolescentes de até 14 anos de idade é legalmente considerada estupro. Para a lei, há violência presumida nesses casos, considerando que até essa idade as meninas estão sendo violentadas, mesmo quando consentem na relação.

Um problema que está aumentando a cada ano que passa é o número crescente de adolescentes que passam pelo Serviço Único da Saúde (SUS).

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

As mães adolescentes e seus recém-nascidos têm todas as desvantagens e por isso são considerados de alto risco. 

Como principais fatores responsáveis por esse aumento são apontados a erotização precoce, a redução da idade do início da vida sexual e a fragilidade de um projeto pessoal de vida. As meninas que sempre amadureceram mais rápido do que os meninos também estão iniciando a vida sexual mais cedo, por volta dos 12 anos de idade.
Os métodos anticoncepcionais costumam ser conhecidos, mas não usados.

CONDIÇÕES NÃO GINECOLÓGICAS
Essas condições influenciam a performance reprodutiva ou social dos adolescentes e por isso devem ser comentadas. 

O hábito de beber na adolescência - Depende da personalidade do adolescente, dos outros significativos e da sociabilidade em geral.

O comportamento delinqüente de adolescentes que são presos - É mais acentuado em relação aos adolescentes normais. Mas o comportamento delinqüente diminui de intensidade quando os adolescentes adentram a fase adulta, parecendo que a delinqüência de muitos adolescentes presos é largamente limitada à adolescência, semelhantemente ao que ocorre com os adolescentes normais. Todavia, cerca de um terço dos adolescentes presos continuam a ter comportamento delinqüente no início da fase adulta. Aparentemente, comportamento delinqüente acentuado na adolescência, controle aumentado ou apoio diminuído dos pais estão associados com o aumento da delinqüência no início da fase adulta (Scholte, 1999). 

Fumo - O hábito de fumar cigarros constitui a principal ameaça isolada para a saúde e a longevidade dos jovens. Cada ano cerca de 400 mil pessoas morrem prematuramente das doenças relacionadas ao fumo. Além disso, 90% dos fumantes adultos começam a usar tabaco antes dos 18 anos de idade, e a cada dia que passa 3000 crianças e adolescentes começam a fumar.

O contato com o fumo freqüentemente começa durante a adolescência, mas os fatores associados com a iniciação precoce permanecem ainda desconhecidos.

A importância dos cuidados higieno-dietéticos na infância e adolescência - Aterosclerose começa na juventude. Faixas gordurosas e lesões clinicamente significativas nas artérias aumentam rapidamente em prevalência e extensão entre 15 e 34 anos de idade. Prevenção da aterosclerose primária deve começar na infância ou adolescência. As lesões significativas da aorta de mulheres e homens são semelhantes, mas as lesões das artérias coronárias direitas das mulheres foram menos acentuadas do que nos homens .


CONCLUSÃO

As jovens encontram-se em uma fase extremamente sensível e diversos fatores influenciam sua transformação em adultas. As alterações econômicas, físicas e sociais, afetam a saúde reprodutiva das adolescentes.
Conclui-se que há grande necessidade de educação, conselho e orientação em relação à saúde reprodutiva e a outros ítens médicos que afetam o desenvolvimento da maturidade. O profissional da sáude deve estar preparado para responder as perguntas da adolescente, assim como auxiliar no tratamento de problemas comuns como a gravidez precoce, as doenças sexualmente transmissíveis, o aborto, o abuso sexual e outras condições não-ginecológicas.

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